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Novo ataque a tiros no Javari evidencia que investigações do caso Bruno e Dom não estão concluídas e há risco de novas mortes

Mapa da Terra Indígena Vale do Javari, que enfrenta invasões constantes de criminosos como ataques de pescadores e garimpeiros ilegais
Mapa: Opi

Publicado por Opi

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Nota do OPI – Urgente

Pescadores ilegais atiraram contra barcos e ameaçaram liderança do povo Kanamari afirmando que iriam matá-la como mataram Bruno e Dom

Indígenas da terra indígena Vale do Javari sofreram um ataque a tiros de pescadores ilegais quando se preparavam para viajar dentro de seu próprio território, no último dia 9 de novembro. O grupo de pescadores estava com o barco carregado de peixes e quelônios capturados ilegalmente e um deles ameaçou a liderança Kanamari com uma arma em punho, dizendo que a mataria como mataram Bruno e Dom, fazendo referência aos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Philips na mesma região, em junho passado. A denúncia consta de carta divulgada ontem (17) pela Associação dos Kanamari do Vale do Javari (Akavaja).

A carta relata ainda que o líder do grupo criminoso tirou a máscara, mostrou o próprio rosto e avisou que “por conta de atitudes assim que Bruno e Dom foram mortos pela nossa equipe e você será a próxima”, referindo-se à líder indígena que o questionou sobre a pesca predatória no território indígena. “Depois de ameaçar abertamente o grupo, em especial a liderança mulher, os pescadores cortaram a fiação do motor de uma de nossas canoas. Então saíram em seus barcos pelo rio, empunhando armas e atirando em direção às canoas do povo Kanamari. Os tiros perfuraram os tambores de gasolina que estavam no teto de uma das canoas”, diz o documento da Akavaja. 

A situação vivida pelos Kanamari demonstra que as investigações dos assassinatos de Bruno e Dom não podem ser consideradas encerradas enquanto a organização criminosa que participou dos crimes permanecer atuando na região. Os homens que ameaçaram as mulheres e crianças Kanamari o fizeram com tal certeza de impunidade que se implicaram voluntariamente nos crimes de junho de 2022. Eles precisam ser identificados e localizados com urgência pelas autoridades brasileiras. 

“Viver sob a mira das armas dos invasores virou rotina para as lideranças e indígenas que navegam pelos rios da região”, diz a carta Kanamari. Passados cinco meses das mortes de Bruno e Dom permanece a situação de total insegurança no Vale do Javari e a violência volta a escalar. As autoridades dos poderes Judiciário, Executivo e Legislativo pouco ou nada fizeram para evitar esse novo ataque. Em outubro a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) emitiu uma nova medida cautelar que diz ao Brasil que é preciso resolver o problema de segurança no Javari, mas nada mudou até agora e o ataque aos Kanamari é uma indicação óbvia de que a violência voltou a escalar. O risco de novas mortes é concreto. 

O Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI), organização fundada por Bruno Pereira, se solidariza com o povo Kanamari e com todos os moradores do Vale do Javari que não conseguem viver e trabalhar em paz por causa da atuação violenta da mesma quadrilha que vitimou nosso fundador. Rogamos às autoridades policiais que identifiquem, localizem e façam a oitiva com urgência dos criminosos que atacaram os Kanamari. 

A Justiça Federal, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal precisam aprofundar as investigações e desbaratar, de uma vez por todas, a organização criminosa que assola o Javari. É necessário que se inicie com urgência um trabalho de fiscalização ostensiva nos rios Itaquaí e Ituí, por onde os criminosos circulam e praticam os crimes ambientais. A Força Nacional precisa ter seu efetivo reforçado e não pode ficar estacionada na base de Proteção Etnoambiental Itui-Itaquaí, precisa patrulhar a região e, com o apoio de outros órgãos, fiscalizar os inúmeros lagos e garantir a segurança dos indígenas e servidores públicos que por ali transitam. A Fundação Nacional do Índio, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e as forças de segurança devem fazer seu trabalho de proteção territorial para cessar a violência no Javari.

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