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Bruno Pereira, 42 anos!

Bruno Araújo Pereira
Bruno Araújo Pereira

Publicado por Opi

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“Agora que os espíritos do Bruno estão passeando na floresta e espalhados na gente, nossa força é muito maior”  Beatriz Matos

Neste dia 15 de agosto Bruno Pereira faria 42 anos.  Dia em que a saudade e ausência é ainda mais sentida pela família, amigos e companheiros. Também data em que o Opi renova seus compromissos e se fortalece na lembrança do seu fundador.  

Já se vão mais de dois meses desde os brutais assassinatos de Bruno e Dom. Diante dessa barbárie, nos vimos sem nosso amigo querido e um de nossos membros fundadores. Nos vimos obrigados a repensar nossas estratégias e nossas posições indigenistas. Vimos a prisão de pessoas que participaram, de alguma forma, dos assassinatos, inclusive de “Colômbia”, figura chave desse crime. Acreditamos na possibilidade de que através dele seja possível abrir e evidenciar o crime organizado que opera na região.  Sabemos da lentidão da justiça e aguardamos que seja feita. Medidas Cautelares junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) elaboradas por diversos peticionários, dentre os quais estão Univaja e Opi, pedem uma investigação imparcial e eficiente, bem como medidas de proteção a pessoas relacionadas à Univaja que seguem ameaçadas pelos grupos criminosos organizados que invadem a TI Vale do Javari. Aguardamos, esperançosos, o resultado das diligências feitas pelas Comissões Parlamentares à região semanas após a confirmação dos assassinatos, bem como os respectivos  relatórios finais a serem entregues pelas Comissões. Aguardamos, ainda, a retratação das autoridades que vilipendiaram a memória de Bruno e Dom, notadamente o presidente da República e o Presidente da Funai. 

Nos preocupamos não apenas com a punição dos responsáveis pelo crime, o que trará um sentimento mínimo de esperança nas instituições, mas, além disso, nos preocupamos com a situação de invasão da Terra Indígena Vale do Javari e a vulnerabilidade dos povos indígenas, especialmente os grupos que vivem em situação de isolamento. Lembramos que a violência praticada pelos invasores a esses coletivos é histórica e recorrente; inúmeros massacres ocorreram ao longo das últimas décadas. 

Não vemos nenhuma medida prática por parte da Funai no sentido de retomar ações efetivas de vigilância e fiscalização e, tampouco, tem-se notícia de planos de ação amplos de proteção da TI Vale do Javari.  O presidente da Funai, Marcelo Xavier, continua sua gestão omissa e de ataque aos direitos indígenas. Não nos restam dúvidas que a atitude da Funai de desprezo pelo trabalho da Univaja – onde Bruno atuava -, e sua omissão na proteção da TI Vale do Javari, contribuíram sobremaneira para o que ocorreu. Apesar disso, nenhuma mudança clara de atitude se viu por parte do governo brasileiro. Ao contrário, continua deslegitimando o trabalho das organizações indígenas, tal como vimos recentemente no caso do surgimento de indígenas isolados próximo a aldeias marubo no rio Ituí. Nesse caso, a Funai não permitiu que lideranças do movimento indígena participassem, junto com sua equipe, das diligências à região, para qualificar o que  estava ocorrendo. Deslegitimou e desprezou – novamente – a importante contribuição das lideranças indígenas. A Funai – um dos poucos órgãos que garantem a presença do Estado na região – co-participa da produção de novas situações de violência contra povos indígenas e seus aliados e evidencia seu desprezo ao trabalho das organizações indígenas.

Continuaremos atentos e contribuindo com a defesa dos direitos indígenas no Vale do Javari, dando continuidade ao enorme legado de Bruno. Intensificaremos o monitoramento do desmonte da política pública de proteção territorial dos povos indígenas isolados e de recente contato na Amazônia Brasileira. Que a tristeza e a raiva tornem poderosa essa luta. 

Opi.

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