Situação preocupa porque, com a proximidade do verão amazônico, isolados tendem a se aproximar das aldeias e não há como avisar autoridades
Na Terra Indígena Vale do Javari, a segunda maior do país e que concentra o maior número de registros de povos indígenas em isolamento, aldeias do povo Kanamari, na porção norte do território, encontram-se atualmente sem nenhum meio de comunicação. A Rede Indigenista do Vale do Javari, do Opi (Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato) considera ser necessária uma solução urgente para o problema.
Os assessores do Opi estão na região e constataram que, das 10 aldeias Kanamari, apenas cinco têm acesso à comunicação por rádio. As outras cinco não têm nenhum acesso e se encontram em região onde há forte presença de indígenas em isolamento. A distância dessas aldeias e as malocas de isolados varia de 8 a 14 quilômetros.
A situação é preocupante porque, com a proximidade do verão, indígenas isolados tendem a se aproximar das aldeias Kanamari, por uma série de motivos. O chamado verão amazônico é a estação da vazante dos rios, o que faz aparecer praias onde desovam os tracajás – quelônio muito apreciado como alimento e também facilita a locomoção pelo território.
É o período em que se tornam frequentes os avistamentos de indígenas isolados. O grupo chamado pelos Kanamari de Warikama-dyapa (gente capivara), foi batizado assim justamente por andar nas praias no verão, porque as capivaras também frequentam essas beiras de rio. Outros grupos chamados Pida-dyapa (gente onça) e Om-dyapa (gente sapo), também costumam aparecer. O surgimento dos isolados pode provocar conflitos interétnicos ou a disseminação de doenças.
Por isso é essencial que as aldeias Kanamari tenham como se comunicar com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), com a União dos Povos do Vale do Javari (Univaja) e autoridades de saúde, em caso de encontros fortuitos com grupos em isolamento, que recusam o contato. O interflúvio dos rios Itaquaí, Jandiatuba e Jutaí é a região da Terra Indígena onde há o maior número de registros de presença de grupos isolados, sendo todos eles classificados pela Funai como de presença confirmada.
As lideranças Kanamari já solicitaram às autoridades governamentais e apoiadores não governamentais que tomem as providências devidas para aquisição e instalação de kits de rádio nas cinco aldeias que estão sem meios de comunicação, mas não há até agora nenhuma resposta concreta para a solução da demanda. A aquisição de rádios não soluciona a questão, por isso a Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari iniciou no mês de maio deste ano um diálogo sobre compartilhamento territorial entre os Kanamari e os isolados nas aldeias do rio Itaquaí.