Como já apresentado no post “Quem são os povos indígenas isolados?”, o Brasil é o país da América do Sul onde há a maior concentração conhecida de povos indígenas isolados. Registra a presença desses povos nos estados do Amapá, Acre, Amazonas, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
Antes de apresentar alguns casos, vale explicar que no Brasil a localização e proteção desses povos é atribuição de Estado, executada por meio da Fundação Nacional do Índio (Funai). A metodologia empregada para o reconhecimento oficial da presença desses povos é constituída por fluxos de pesquisa, que envolve o levantamento documental, qualificação de relatos de terceiros, análise de imagens de satélite, sobrevoos e expedições nas regiões (muitas vezes inóspitas) onde se indica a presença desses povos. As expedições de campo visam a verificação dessa presença. Em outra publicação iremos aprofundar mais essa questão da metodologia.
Seguem o resumo de alguns casos:
Amazonas
No estado do amazonas há a maior quantidade de registros de povos isolados. É conhecida praticamente em todas as regiões do estado, desde ao norte, no alto rio Negro e na região do Pico da Neblina – Terra Indígena Yanomami; até o sul do Amazonas, na região do médio rio Purus ou no interflúvio Tapajós/Madeira. Na região do Vale do Javari, fronteira com o Peru, é onde há a maior concentração conhecida desses povos no país (e possivelmente no mundo).
Acre
O Acre também possui uma presença grande de povos indígenas isolados. Localizam-se, sobretudo, na região de fronteira com o Peru. É muito conhecida a presença dos Mashko Piro isolados, que ocupam regiões em ambos os lados da fronteira Brasil/Peru; do povo isolado cujas fotos rodaram o mundo. Recentemente (2014), um grupo isolado da região entrou em contato com a Funai e indígenas Ashaninka, conhecidos como “índios recém contatados do igarapé Xinane”, no alto rio Envira, também fronteira com o Peru. O narcotráfico internacional e a exploração madeireira, sobretudo no lado peruano, são as principais ameaças a esses povos.
Rondônia
Em Rondônia há casos emblemáticos de violação dos direitos indígenas, como é o caso dos índios Akuntsu e Kanoê, da Terra Indígena (TI) Omerê; e do “índio do Buraco”, da TI Tanaru. Os poucos Akuntsu e Kanoê, bem como o “índio do buraco”, são os últimos sobreviventes de seus respectivos povos. Os povos da qual esses grupos fazem parte foram dizimados por massacres ocorridos durante a implementação de projetos de colonização e de desenvolvimento econômico em Rondônia, nas décadas de 1980 e 1990.
Foi em Rondônia, também, que foi demarcada no início da década de 1990 a primeira Terra Indígena (TI) para usufruto exclusivo de um povo indígena isolado: a TI Massaco. Foi a primeira experiência metodológica bem sucedida de garantia de direitos dos povos isolados sem a obrigatoriedade de contato. A partir de então, provou-se que era possível a implementação administrativa dos princípios da política pública do não contato, do respeito à autodeterminação desses povos.
Maranhão
A região abrangida pelo oeste maranhense é território tradicional Awa Guaja. Entre as décadas de 1970 e 1990 foram contatados diversos grupos no contexto de colonização da região e construção e operacionalização da ferrovia Carajás. Entretanto, até hoje é conhecida a presença de grupos ainda isolados na região, localizados nas Terras Indígenas Caru, Arariboia e Awa. Esses grupos isolados são extremamente vulneráveis em função da constante pressão da exploração ilegal de madeira em seus territórios.
Pará
No Pará também há uma grande quantidade de informações apontando a presença de povos isolados, desde a região da Calha Norte, fronteira com as Guianas e Suriname, na região do Médio Xingu – no contexto da UHE Belo Monte – até o sul do Pará, na bacia do alto Xingu e na região do médio e alto Tapajós. A exploração madeireira, garimpo e a implementação de grandes projetos de desenvolvimento econômico têm sido os maiores desafios para proteção desses povos.
Roraima
Em Roraima há a presença de povos isolados na Terra Indígena (TI) Yanomami, tal como os Moxihatëtëa; e na Terra Indígena Waimiri Atroari. Na TI Yanomami há uma grande – e histórica – pressão do garimpo ilegal de ouro, que vem colocando em risco de genocídio não só os grupos isolados, mas toda a população indígena dessa TI.
Goiás
No estado do Goiás é conhecida a historia de massacres, de fuga e de resistência do povo Ava Canoeiro. Além dos Ava que já travam contatos – o pequeno grupo considerado de recente contato no município de Minaçu – há também relatos apontando a presença de grupos ainda isolados na macro-região da Chapada dos Veadeiros.
Mato Grosso
No noroeste matogrossense é confirmada a existência de dois grupos isolados da família linguistica Kawahiva. Ambas as situações são dramáticas: é o caso dos Piripkura e dos isolados da TI Kawahiva do Rio Pardo. É conhecida a existência de dois indígenas Piripkura, sobreviventes de massacres históricos desferidos contra eles, habitantes da bacia do rio Roosevelt. Já o grupo isolado da TI Kawahiva do rio Pardo é um grupo maior demograficamente (aparecem na foto em destaque). Acuados, vivem em constante processo de fuga, escondidos em seu próprio território, em decorrência da ação de madeireiros e da grilagem de terras. Além desses dois grupos confirmados, há uma serie de registros da presença de índios isolados ao longo do norte e noroeste do estado do Mato Grosso.
Amapá e Tocantins
No Amapá há informações da presença de isolados em regiões fronteiriças com a Guiana Francesa e o estado do Pará. No Tocantins são históricos os relatos da presença de grupos isolados Ava Canoeiro na região da ilha do Bananal.
Por: Fabrício Amorim / Equipe blog Povos Isolados.