Em debate no dia 8 organizações destacaram necessidade de combate à criminalidade na Amazônia
Representantes do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi) e da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) participaram ontem (8) de debate na Conferência de Biodiversidade das Nações Unidas, a COP 15, que reúne 196 países em Montreal para tentar criar um plano de proteção da biodiversidade para os próximos anos.
A reunião global é vista como a última chance de frear a perda colossal de biodiversidade no planeta. A taxa de extinção vem acelerando em níveis preocupantes e ameaça cerca de um milhão de espécies. Um dos objetivos das negociações é alcançar acordos multilaterais para frear as ameaças à biodiversidade.
O coordenador do Opi, Fábio Ribeiro e Beto Marubo, da Univaja, se juntara m a Beatriz Huertas, da Rainforest Foundation Noruega (RFN) e da Organización de Pueblos Indígenas del Oriente (Orpio) e John Reid, da Nia Tero, para debater a importância dos povos em isolamento para a proteção da biodiversidade. Ao abrir o debate, John Reid, da Nia Terro deu o tom da mesa: “nessas florestas, há pessoas”, lembrou. Ele ressaltou que Ribeiro, Marubo e Huertas estão entre os maiores especialistas do mundo sobre povos isolados.
Fabio Ribeiro apresentou um panorama sobre a situação dos povos isolados no Brasil, onde os 114 registros se concentram na região Amazônica e onde, desde a década de 1980, há uma política de não contato e respeito à autonomia desses grupos. Ribeiro listou ameaças como o avanço do desmatamento e o domínio do crime organizado sobre porções cada vez maiores da floresta.
Mencionou o genocídio do povo de Tanaru, que desapareceu em 2022 com a morte de seu último integrante em Rondônia, numa área intensamente desmatada por fazendeiros e lembrou os assassinatos bárbaros de Bruno Pereira, fundador do Opi e do jornalista Dom Phillips, por pescadores ilegais que atuam há anos no Vale do Javari.
“Vemos a necessidade urgente de operações coordenadas para combater a criminalidade em toda a região amazônica”, disse, lembrando fala recente do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, que disse que o maior risco para o Brasil é perder a soberania da Amazônia para o crime organizado.
Beto Marubo, da Univaja, ressaltou que, sobretudo nos últimos quatro anos, ficou muito evidente no Brasil a importância dos territórios indígenas para a proteção da biodiversidade. “Proteger os isolados é proteger a biodiversidade”, disse. Daí a importância da pauta da demarcação das terras indígenas, que está no centro dos debates durante a transição para o novo governo brasileiro, da qual Marubo está participando.
“O desmatamento tem aumentado muito nas áreas que, em tese, são protegidas pelo governo federal. É preciso que a proteção seja efetiva, placa não protege”, disse, ressaltando a importância de ações de fiscalização e garantia efetiva de funcionamento das Frentes de Proteção Etnoambiental nas áreas onde há registros de povos isolados. “A mensagem q trazemos é essa: não se pode disassociar a proteção dos territórios indígenas da proteção da biodiversidade”, concluiu.
Beatriz Huertas abordou a problemática dos povos isolados na Amazônia peruana e reforçou a necessidade de efetiva proteção territorial. “Quando falamos da proteção de povos em isolamento, estamos dizendo que seus territórios precisam ser intangíveis”, concluiu.