O Opi, organização fundada por ele, lança novo site e nova identidade visual na semana em que se completa um ano dos assassinatos de Bruno e do jornalista Dom Phillips
5 de junho é o Dia Mundial do Meio Ambiente e marca, desde 2022, o momento dos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, vítimas de uma emboscada, mortos pelas costas por uma quadrilha de pescadores ilegais no Vale do Javari. Para as famílias e amigos deles, para os povos indígenas e para os defensores do meio ambiente, vai ser para sempre um dia de tristeza, de lembrar a perda brutal de dois homens que dedicaram suas vidas aos direitos humanos e à proteção da Amazônia.
Para o Opi – Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato, organização fundada por Bruno Pereira, vai ser também um dia para lembrar o legado dele e continuar seu trabalho. Nesse primeiro aniversário da morte de Bruno, afirmamos a presença do espírito dele entre nós, lançando o novo site da organização e uma nova identidade visual. O novo site traz informações detalhadas sobre o Opi, sobre os povos indígenas isolados, sobre as políticas de proteção a esses grupos e sobre a história de genocídios que marca a relação do Estado brasileiro com os povos indígenas.
O site também apresenta os significados da palavra Opi. Opi é o verbo na língua zo’é que, conjugado na terceira pessoa do singular, pode ser literalmente traduzido para “ferroar”. Tapijei opi, “a formiga tapijei ferroa”. Para os Zo’é, a ferroada das formigas tapijei tem um poder específico de “tirar preguiça” de algumas pessoas. Para um dos povos indígenas vizinhos dos Zo’é, os Wayana, Opi significa remédio ou planta medicinal, em referência aos muitos saberes sobre plantas da floresta desse povo de língua caribe que habita a bacia do rio Paru do Oeste ou Okomokï. “Na medida em que ferroar, por um lado, e curar ou agredir por meio de plantas medicinais, por outro, pressupõem a intencionalidade do agente, da mesma forma os estrepes dispostos pelo povo indígena isolado da Terra Indígena Massaco nos caminhos dos invasores podem ser encarados como uma ferroada ou mesmo como um ataque que visa de todo modo a cura da terra”, explica o site.
Ao mesmo tempo, Opi pode ser a sigla de Observatório dos Povos Indígenas Isolados. “De forma que a ação do Opi, oscilando entre a ferroada e o remédio, o ataque e a cura, segue o mesmo movimento que o pensamento-ação dos povos ameríndios, entre a festa e a guerra. A dor da ferroada e mesmo da morte gera a força vital que extermina a inação e abre a pupila, os ouvidos e o faro do caçador. O remédio do pajé pode curar o parente e envenenar o inimigo”.
Pensada a partir desses elementos, a nova identidade visual renova a logomarca do Opi e é uma realização do designer e diretor de arte Marcelo Vendramel, vencedor de vários prêmios de design e criatividade, especialista em branding.
Para a identidade do Opi, Marcelo trabalhou com a ambiguidade entre cura e ferroada, sempre tendo em mente o legado de Bruno Pereira. “Uma linguagem visual mais estruturada e coerente com o propósito do Observatório vai apoiar a percepção de uma organização mais sólida e viva, tanto para quem vai entrar em contato com o Opi pela primeira vez, quanto para quem já o conhece”, afirma o designer.
O desenvolvimento do novo site do Opi ficou a cargo do Studio Cubo, uma agência de tecnologia web especializada em desenvolver plataformas digitais complexas e com experiência em atender organizações não-governamentais e associações. O responsável técnico é André Mota, publicitário e pós graduado em planejamento estratégico em comunicação. Para o lançamento, foi preparada uma animação pela Beco Cria, uma produtora audiovisual na favela, direto da periferia de São Paulo, que atua com educação de jovens para trabalhar com audiovisual e coloca pessoas pretas e periféricas em todos os processos para atender as demandas do mercado.
A animação foi elaborada por Matheus Ferreira, do Beco Cria, junto com o designer Marcelo Vendramel. O vídeo, de 42 segundos, traz como trilha o sample feito por André Abujamra, em cima do canto Kanamari Marinawa Kinadih, que viralizou na internet na época dos crimes. A homenagem apresenta a identidade visual e o Opi e mostra ao mundo a presença de Bruno Pereira. Enquanto estivermos aqui, seguiremos em frente com seu legado.