Maria morreu sem diagnóstico depois de meses tentando ser atendida por médicos no Brasil e no Peru
Mãe de 10 filhos, avó de 21 netos e bisavó de 3 bisnetos, Maria Artur Manchineri ancestralizou no último dia 26 com apenas 57 anos, após tentar por várias semanas um atendimento de saúde. De acordo com a nota divulgada pela Associação Mappha (Manxinerune Ptohi Phunputuru Poktshi Hajene), do povo Manchineri, Maria morreu sem sequer ter sido diagnosticada. Depois a família ficou sabendo que ela foi vítima de câncer de fígado, mas também da ineficiência do sistema público de atenção à saúde dos povos indígenas no Brasil.
Depois de uma vida dedicada a trazer crianças ao mundo e a curar doentes na Terra Indígena Mamoadate, no Acre, entre 1o de julho e 24 de setembro de 2024 Maria teve que peregrinar por médicos no Brasil e no Peru sem conseguir diagnóstico, tratamento ou a hospitalização de que necessitava. No fim, com o quadro se agravando, acabou sendo removida para um hospital em Assis Brasil, onde não resistiu à doença e faleceu.
A morte de Maria não foi a última evidência da maneira desrespeitosa com que o Brasil trata os povos indígenas. A família pediu que o corpo fosse levado de helicóptero para a aldeia Extrema, onde morava, para os ritos funerários, mas o voo foi impedido por causa da fumaça das queimadas que cobre o estado do Acre há mais de 2 meses. Maria teve que fazer a última viagem de barco pelo rio Iaco tristemente castigado pela maior estiagem em 40 anos na Amazônia.
A família denunciou: “essa situação de descaso na atenção à saúde no nosso município não é de agora e é muito recorrente que nós mesmos pagamos as passagens, os medicamentos e as consultas de médicos na cidade”. Maria Manchineri era mãe de Lucas Manchineri, assessor técnico do Opi e presidente da Associação Mappha. Ela deixa um legado de sabedoria e cuidado e é com essa lembrança que o Opi manifesta seu pesar e solidariedade para com a família e o povo Manchineri.