Membro de organização indígena que monitorava a situação foi atingido e socorrido em seguida. Entidades pedem fim das concessões florestais na região
A liberação da exploração madeireira em florestas onde vivem grupos indígenas isolados Mashco-Piro, na fronteira entre Peru e Brasil, vem provocando conflitos que culminaram, no último dia 26, em um ataque a flechas contra integrantes de organizações não governamentais e funcionários do governo peruano. Um grupo de ao menos 100 indígenas isolados atirou e o agente da Federação Nativa Madre de Dios e Afluentes (Fenamad), Jorge Hernani Alvarado, foi atingido no ombro.
A Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana (Aidesep) soltou uma nota no mesmo dia pedindo socorro para Alvarado e denunciando a gravidade da situação. Um helicóptero foi enviado no dia seguinte para retirar o ferido do local. Ele foi socorrido e passa bem. A nota destaca que os avistamentos e enfrentamentos com os Mashco-Piro vêm se tornando cada vez mais frequentes e graves “devido à invasão massiva do território em que vivem por madeireiros legais e ilegais”.
Para a Aidesep, que representa 64 povos indígenas amazônicos do Peru, a única maneira de deter o conflito, que pode comprometer as chances de sobrevivência dos Mashco e levá-los ao genocídio, é cancelar todas as concessões florestais outorgadas pelo governo peruano dentro do território indígena. “Enquanto existirem concessões florestais e atividades de extração madeireira eles seguiram se defendendo e lamentavelmente haverá mais enfrentamentos e mortes”, diz a nota.
Em setembro, dois trabalhadores em áreas de extração madeireira foram mortos em confronto com os indígenas isolados, As organizações indígenas da Amazônia peruana responsabilizam o governo pela “grave situação de genocídio” por terem permitido a exploração de madeira em área que é sabidamente território de vida dos Mashc- Piro. A Aidesep e as entidades que representam pedem a suspensão imediata das atividades madeireiras.
A porção da floresta amazônica em que os Mashco vivem e protegem é parcialmente protegida após a criação da Reserva Territorial Madre de Dios,em 2002, mas uma grande área ainda não tem proteção legal e foi aberta para exploração de madeira,através de concessões florestais, o que atrai invasores e provoca os conflitos que vem se agravando ao longo de 2024.
A situação pode ter consequências também do lado brasileiro da fronteira, já que esse grupo, considerado o maior povo isolado do mundo, tradicionalmente se desloca entre os territórios do Acre e do departamento Madre de Dios. No Brasil, há registros da sua presença em diversas áreas: Terra Indígena Mamoadate, Terra Indígena Kampa e Isolados do Rio Envira, Parque Estadual Chandless, Estação Ecológica do Rio Acre, Terra Indígena Cabeceiras do Rio Acre e Terra Indígena Alto Purus