Aumento em casos de covid 19, influenza e malária na região provocou adiamento
A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), o Observatório dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (Opi) e a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) comunicam a suspensão do segundo intercâmbio entre coletivos indígenas de vigilância e monitoramento para proteção de povos isolados, que seria realizado entre 27 de janeiro e 2 de fevereiro, na Terra Indígena Vale do Javari. O adiamento atende recomendações sanitárias da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e da Frente de Proteção Etnoambiental da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) no Javari.
De acordo com nota técnica enviada pela Sesai, houve um aumento do número de casos de doenças respiratórias no estado do Amazonas, que coincide com o período sazonal de crescimento, no Brasil, de infecções por Influenza, covid-19 e outros vírus respiratórios. Ao mesmo tempo, há registro de um surto de covid-19 em pelo menos uma das aldeias do Vale do Javari, o que exige maiores cuidados com o trânsito de indígenas para as cidades da região e também a entrada de não indígenas no território. A região enfrenta também um aumento nos casos de malária.
Como se trata da terra indígena com maior número de povos indígenas isolados no país – são 16 registros – o alerta sanitário tem mais gravidade, dada a maior vulnerabilidade epidemiológica desses povos. O encontro adiado reuniria indígenas de várias regiões da Amazônia brasileira onde também vivem grupos em isolamento, justamente para tratar de sua proteção. É um evento de troca de experiências entre coletivos que se especializaram em monitorar e proteger os isolados. “Seria um contrassenso realizar o evento em meio ao alerta de risco epidemiológico. Vamos realizar o intercâmbio quando for absolutamente seguro”, explica o coordenador do Opi, Fabio Ribeiro.
O coordenador geral da Coiab, Toya Manchineri, lembra a longa luta contra a propagação da covid 19 nas terras indígenas, durante a emergência sanitária mundial. A Coiab coordenou ações emergenciais e estratégicas para garantir a instalação de barreiras sanitárias e fortalecer as FPEs durante a pandemia, para evitar uma catástrofe nos territórios. “Após tantas conquistas do movimento indígena temos que seguir com os cuidados necessários e respeitar as recomendações sanitárias. Não seremos nós a colocar em risco nossos parentes e parceiros”, disse Toya, assegurando que o intercâmbio vai ocorrer assim que for seguro para todos.
A Coiab aproveita para reiterar e solicitar que parceiros e entidades que trabalham com povos indígenas na Amazônia Brasileira, sobretudo lugares próximos de territórios que abrigam povos em isolamento voluntário sigam os critérios sanitários estipulados pelo Ministério da Saúde e Sesai, como precaução diante da nova alta de casos de covid-19 no Brasil, com casos acontecendo por toda a região amazônica.
O intercâmbio entre coletivos indígenas de vigilância e monitoramento para proteção de povos isolados no Vale do Javari será realizado em nova data a ser anunciada em breve, após os devidos diálogos com os órgãos responsáveis, com as lideranças do Vale do Javari e com o povo Kanamari. O local será mantido, na aldeia Massapê, do povo Kanamari, reunindo convidados de várias regiões da Amazônia brasileira. É o segundo encontro do tipo a ser realizado pela Coiab e pelo Opi, com apoio da Comissão Pró-Indígena do Acre (CPI Acre), da Univaja e do Centro de Trabalho Indigenista (CTI). O primeiro ocorreu em maio de 2023 na Terra Indígena Kaxinawá, no Acre.