Nas últimas semanas, o Presidente da Funai vem movendo inquéritos policiais contra lideranças e organizações indígenas, com o objetivo de intimidar e calar as vozes do movimento indígena. Nesta quarta-feira, dia 16 de junho de 2021, a Funai e a Polícia Militar do Distrito Federal, atacaram, literalmente, os povos indígenas que se manifestaram pacificamente na porta da instituição por não serem recebidos pelo seu presidente, jogando gás de pimenta e bombas de efeito moral.
Ao mesmo tempo, num dos territórios mais distantes da sede da Funai em Brasília, uma organização indígena da Amazônia também sofreu mais um ataque. Lideranças da Vale do Javari tomaram conhecimento que a Funai e o DSEI – Distrito Sanitário Especial Indígena denunciaram ao Ministério Público Federal, através de ofício, a entrada de uma missão da UNIVAJA – União dos Povos Indígenas do Vale do Javari, na Terra Indígena Vale do Javari. A denúncia foi feita porque, supostamente, os indígenas não cumpriram os protocolos sanitários contra a COVID19 ao entrarem em seu próprio território.
O ingresso imediato no território tinha um motivo muito urgente, parentes isolados andavam (e ainda estão) rondando algumas aldeias há, pelo menos, cinco semanas. Por isso, as comunidades estavam bastante apreensivas, com temor de ataques e raptos de mulheres, e pedindo ajuda para todos os órgãos. A demora e omissão da Funai em agir motivou a UNIVAJA a tentar encontrar uma solução própria para evitar um conflito entre os Marubo e os povos indígenas isolados.
O caso dos indígenas isolados rondando as aldeias vem sendo relatado pelos Marubo e pela UNIVAJA desde março. Até o momento, a ação da Funai se resumiu no envio de um servidor até às aldeias para olhar o que está acontecendo e monitorar a situação pelo rádio. Não houve uma conversa mais objetiva, com encaminhamentos claros, para apaziguar os ânimos nas comunidades e nem uma expedição para saber quem são ou de onde são os isolados que estão se aproximando das aldeias. Sem as respostas que o caso merece, a UNIVAJA foi buscar as informações, mediar o conflito e prestar auxílio às comunidades Marubo.
A situação, provocada pelo Presidente da Funai, é mais um ataque para a desmobilização do trabalho das organizações indígenas. Novamente, a “nova” Funai, omissa e inoperante, sem tomar medidas concretas, intimida lideranças indígenas só pelo fato destas buscarem e lutarem pelos direitos dos povos indígenas e o bem-estar
de suas comunidades e famílias.
Manaus, Amazonas, 18 de junho de 2021.
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB)
Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de
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