A visita de Luiz Inácio Lula da Silva a Belém foi marcada pelo encontro do candidato à presidência da República com a antropóloga Beatriz Matos, viúva do indigenista Bruno Pereira e uma das coordenadoras do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados (Opi), organização fundada pelo indigenista. O encontro ocorreu hoje (2) em Belém e incluiu uma homenagem a Bruno e a Dom Phillips e a entrega de um documento com as propostas norteadoras do Opi para garantia de direitos dos isolados.
Beatriz Matos agradeceu o convite para o evento em que estiveram reunidas lideranças indígenas, quilombolas e ribeirinhas de várias regiões do Pará. Ao lado de Lula e da mulher dele, Janja e com a presença de Beto Marubo, da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) ela pediu Justiça para Bruno e Dom, inclusive com a identificação e responsabilização de possíveis mandantes do crime. “As redes criminosas que foram responsáveis pela morte deles devem ser desmontadas”, disse, e acrescentou: “as redes criminosas tem que ser desmontadas em quase todos os territórios da Amazônia, que estão cercados pelo crime”.
“A principal e maior homenagem ao Bruno, o maior legado dele, é garantir os direitos dos povos indígenas isolados, pelos quais ele deu a vida. Para isso é preciso manter a política de não contato, fortalecer a Funai, fortalecer as bases de proteção etnoambiental, demarcar as terras dos isolados. É preciso também que a política para os isolados seja baseada no conhecimento técnico e científico, produzido pelas gerações anteriores de indigenistas, pela nossa geração, pelo próprio Bruno e pelo Opi, a organização que ele fundou”, afirmou.
“Não queremos mais que lideranças indígenas morram por estar protegendo seu território. Não queremos que indigenistas e ambientalistas morram por estar defendendo a Amazônia. Eu e meus parentes estamos aqui, sabemos falar o português e nos comunicar, os índios isolados não sabem então a Funai é vital esses povos indígenas e pessoas como Bruno são mortos por protegê-los. Nós não queremos que isso aconteça nunca mais”, disse Beto Marubo ao candidato Lula.
O documento provisório, com os principais pontos para a reestruturação da Politica de Proteção aos Povos Indígenas Isolados, entregue por Beatriz Matos e Beto Marubo, contém as linhas gerais que visam a reestruturação da execução da política de Estado para a proteção dos povos indígenas isolados e para evitar novos crimes como o caso de Bruno e Dom e também para prevenção de genocídio. A antropóloga lembrou que o Brasil testemunhou um genocídio, na semana passada, em Rondônia com a morte de Tanaru, conhecido também como índio do buraco, o último membro de seu povo, que permaneceu isolado, recusando o contato por décadas até morrer na floresta que passou a vida protegendo. “Um povo foi extinto e isso é a definição de genocídio, que significa o extermínio ou a tentativa de extermínio de um povo. Foi contra isso que o Bruno lutou e, em honra dele, é contra isso que devemos atuar”, disse.
Entre as diretrizes propostas pelo OPI para a garantia de direitos dos isolados está o compromisso com a política do não contato, a imediata regularização dos territórios com presença de povos indígenas isolados, fortalecimento normativo/jurídico da política pública voltada aos povos indígenas isolados, incremento da estrutura de estado para execução da localização e proteção dos povos indígenas através da reestruturação da Coordenação Geral de Indios Isolados e Recente Contato da Funai e das Frentes de Proteção Etnoambiental que atuam na Amazônia Legal. O documento entregue também defende a incorporação de estratégias e políticas indígenas para melhoria da política de Estado, inclusive reivindicando orçamento específico para essa finalidade.
O documento final elaborado pela Opi será entregue após os resultados das eleições, ao presidenciável que ganhar o pleito, bem como aos parlamentares indígenas e aos não indígenas que tenham compromisso com a questão indígena.