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Intercâmbio Yine-Manxineru: estratégias de proteção e acordos comunitários para situações de contingência com povos isolados

Participantes do Intercâmbio Yne Manchineri posam na beira do rio
Foto: DIvulgação

Publicado por Opi

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Encontro é fruto da cooperação entre Fenamad, Coiab, CPI-Acre e Opi

Especialistas indígenas, monitores e agentes etnoambientais Manxineru da Terra Indígena Mamoadate, no Brasil, e os agentes de proteção Yine da Comunidade Nativa Diamante, no Peru, estiveram reunidos para compartilhar experiências do trabalho de proteção de povos indígenas isolados, que realizam em seus territórios próximos da fronteira entre Brasil e Peru. O intercâmbio foi realizado entre os dias 03 e 05 de setembro de 2024, em Diamante, comunidade localizada no Distrito de Fitzcarrald, Província de Manu, na região de Madre de Dios, no Peru. 

O encontro contou com o apoio e a colaboração entre FENAMAD (Federación Nativa del Río Madre de Dios y Afluentes), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), através da Gerência de Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (GPIIRC), Comissão Pró-Indígenas do Acre (CPI-Acre), Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato (OPI). Essas organizações colaboram com movimentos indígenas, comunidades e parceiros da sociedade civil, além do Estado brasileiro e peruano, para fortalecer a proteção dos povos isolados nas regiões transfronteiriças.

Os Manxineru das aldeias Extrema e Lago Novo, da Terra Indígena Mamoadate, no Brasil, puderam conhecer de perto o trabalho realizado pelos agentes de proteção dos Postos de Vigilância em Alto Río Madre de Dios. A discussão girou em torno de possíveis situações de contingência com grupos de indígenas isolados ou “desconfiados”, como são chamados pelos Manxineru do Brasil, com a intenção de delinear estratégias, acordos e protocolos de ação para os agentes e comunidades envolvidas. 

Como parte de uma estratégia iniciada em 2022, a Coiab e a Fenamad promoveram o primeiro intercâmbio que ocorreu entre 24 e 26 de maio de 2022 na Terra Indígena Mamoadate, no Acre, envolvendo agentes de proteção das aldeias Extrema e Lago Novo. O objetivo foi preparar as comunidades para a possível aproximação dos Mashco-Piro, um povo isolado, compartilhando experiências sobre contato e organização comunitária. Em 2024, esse diálogo de intercâmbio é retomado, reforçando a cooperação entre os países para fortalecer as estratégias de proteção e aproximação com esses povos.

Nos últimos anos, os moradores das aldeias Extrema e Lago Novo relataram que estão cada vez mais preocupados com a aproximação cada vez mais frequente dos grupos isolados. “O trabalho que realizamos é para proteger os parentes desconfiados. A gente não quer contato com eles. Queremos manter eles do jeito que estão. A gente evita que narcotraficantes, madeireiros, pescadores e caçadores ilegais os incomodem. O pessoal aqui do Peru já sabe lidar com essas situações de contato para que não ocorram conflitos. Uma comunicação errada com eles pode gerar um conflito. Eles podem ficar irritados e atacar com flechas. Não estamos totalmente preparados para essa situação, e não queremos conflitos. Esses intercâmbios são importantes para evitarmos que essas situações aconteçam”, explica Maílson Manchineri, coordenador do coletivo de monitores da aldeia Extrema.

O intercâmbio foi realizado seguindo todos os protocolos de segurança e com o compromisso de manter o princípio de não contato com os povos isolados. Durante as reuniões, o diálogo entre as equipes fortaleceu a atuação conjunta entre as organizações e comunidades. Ao final, foram estabelecidos compromissos para assegurar a continuidade e a eficácia das ações de defesa desses povos. 

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